domingo, 16 de outubro de 2011

Trabalhos Acadêmicos

ANÁLISE DO LIVRO VIDAS SECAS DE GRACILIANO RAMOS
Edimilson Lobato da Silva
Raimundo Zaire Soares da Cruz
Sergio de Sousa Lourinho
Valdenilson Modesto Carneiro


RESUMO

Esta obra publicada em 1938 nos mostra uma família do sertão nordestino, pobre e que estão em busca de um local para viver. Fabiano que é o chefe da família, junto com sua esposa Sinhá Vitória, seus dois filhos e a cachorra baleia estão de mudança, quando encontram uma casa que parece estar abandonada e decidem passar a noite naquele local. O que eles não esperavam é que o dono da casa aparecesse e é justamente o que acontece, o mesmo ameaça expulsá-los, Fabiano fazendo-se de desentendido, implora por trabalho e isso faz com que eles fiquem na fazenda. Passa-se um ano e Fabiano já é empregado da fazenda, no entanto não recebe seu salário dignamente, um dia indo à cidade fazer compras para Sinhá Vitória, Fabiano é convidado por um soldado para jogar baralho com outros apostadores, começou a apostar todo o seu salário, que não era muito, e quando percebeu que estava perdendo resolveu sair de mancinho sem se despedir, foi quando Fabiano acabou sendo abordado pelo soldado, momento em que inicia-se uma discussão entre os personagens. O soldado chama a policia e o retirante (Fabiano) acaba sendo preso acusado injustamente e também é agredido com um facão. A figura do soldado simboliza o governo e, com isto, o autor quer passar a idéia de que não é só a seca que faz do retirante um bicho, mas também as arbitrariedades cometidas pela autoridade. Enquanto isso, Sinhá Vitória está em casa com as crianças. Uma vez que o marido deseja um dia saber expressar-se bem, diante dos demais, a mulher deseja apenas possuir uma cama de couro, parecida com a de seu Tomás da bolandeira, senhor culto que é uma referência na cidade. Ela acaba relembrando a viagem, a morte do papagaio, o medo da seca e a presença do marido que lhe dá segurança. A obra continua sendo construída em quadros com os seus capítulos independentes e que não se articulam formalmente entre si, tem um quadro para o menino mais novo, outro para o menino mais velho, outro para o inverno, a festa, a baleia, as contas, o soldado amarelo, o mundo coberto de penas e finalmente a fuga, que acontece quando a esposa junta-se ao marido e sonham juntos. O livro termina com uma mistura de sonhos, frustração e descrença. Fabiano mata um bezerro, salga a carne e partem de madrugada para o sul.

PALAVRAS CHAVES – Trabalho. Frustração. Sonho.

OBJETIVO:
Analisar o romance Vidas Secas, a presença e a predominância dos aparelhos ideológicos de estado e dos aparelhos repressivos de Estado, suas ideologias e também a manifestação de como acontece na obra o discurso e o interdiscurso.

REFERENCIAL TEORICO:

Na metáfora marxista do edifício social, percebemos que a infraestrutura (base econômica) determina a superestrutura (instâncias político-jurídicas e ideológicas). A grande vantagem teórica desta metáfora é o fato de fazer ver que as questões de determinação são capitais, mostra que é a base que determina todo o edifício e obriga a refletir acerca do tipo de eficácia derivada da superestrutura, sobre sua autonomia relativa e a ação de retorno da superestrutura sobre a base.
Nesta metáfora, ou seja, nesta relação de classes, encontramos ainda os Aparelhos Repressivos do Estado (ARE) e os Aparelhos Ideológicos de Estado (AIEs). Estes Aparelhos não se confundem, pois o Repressivo funciona através do emprego da força “violência”, enquanto que a ideologia é utilizada para os demais como por exemplo: família, escola, judiciário, igreja, partidos políticos, sindicatos e outros. Faz uma distinção entre o poder do estado e o aparelho do estado, sendo o ultimo o corpo das instituições que constituem o Aparelho Repressivo do Estado e o corpo de instituições que representam o corpo dos Aparelhos Ideológicos de Estado.
Existe um único Aparelho (repressivo) de Estado, enquanto que existe uma pluralidade de Aparelhos Ideológicos de Estado.
Podemos concluir que é uma estratégia política que prega a luta a se travar fora do estado em sentido amplo, pois não considera a ideologia como algo determinado no processo de produção, preferindo vê-la como atribuição do Estado, com o objetivo de assegurar a determinação. Através do Estado, a classe dominante monta um aparelho de coerção e de repressão social, que lhe permite exercer o poder sobre toda a sociedade, fazendo submeter-se às regras políticas. O grande instrumento do Estado é o direito, isto é, o estabelecimento de leis que regulam as relações sociais em proveito dos dominantes. Através do Direito, o Estado aparece como legal, ou seja, como “Estado de direito”. A dominação de uma classe é substituída pela idéia de interesse geral encarnado pelo Estado.

METODOLOGIA:
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA:
 Vidas Secas de Graciliano Ramos;
 Análise do discurso de Fernanda Mussalim;
 O primado da prática: uma quarta época para a análise do discurso de Nelson Barros da Costa;
 Interdiscursividade e Intertextualidade de José Luiz Fiorin.

ANÁLISE:
A base econômica do capitalismo tal como ele foi compreendido pelas teorias Marxistas. As relações de produção implicam divisão de trabalho entre aqueles que são donos do capital e aqueles que vendem a mão-de-obra. Esse modo de produção é a base econômica da sociedade capitalista.
Partindo desse pressuposto, nos reportamos à época em que vivem o Nordestino Fabiano e sua família, em uma verdadeira peregrinação, sofrida sem expectativas de mudanças, vivendo sob uma ideologia dominante, ora imposta pelo patrão da fazenda, ora pelo estado, na forma de seu representante legal o soldado amarelo.
Althusser levanta a necessidade de se considerar que a infra-estrutura determina a superestrutura, ou seja, que a base econômica é que determina o funcionamento das instâncias político-jurídicas e ideológicas de uma sociedade.
Fernanda Mussalim afirma que o que tradicionalmente se chama de Estado é um aparelho repressivo do Estado (ARE), que funciona movido “pela violência” e cuja ação é complementada por instituições – a escola, a religião, por exemplo, que funcionam “pela ideologia” e são denominadas aparelhos ideológicos de Estado (AIE).
Dentro desse contexto, ao lermos a obra Vidas Secas compartilhamos o sofrimento vivido por Fabiano, um homem rústico, aparentemente alcoólatra, viciado em jogo e que é brutalmente perturbado, seja por sua vida material, seja por seu psicológico, que o inflama e distorce todo o seu patamar de vida transformando-o, por vezes, em um feroz chegando às virtudes de um louco parecido com um animal.
Fabiano e sua família são levados a conviver com a ideologia repugnante, imposta a eles como um meio de vida, ou seja, sempre conviveram desta forma e por mais que busquem realizar seus sonhos nunca conseguirão, a humilhação imposta aos mesmos e o sofrimento pelos quais eles passam, pelo seu próprio contexto histórico e que atinge toda uma esfera regida pelo estado onde o mesmo não consegue suprir as necessidades básicas do povo que vive a mercê, jogados à própria sorte e debaixo somente da supremacia divina.
O sofrimento imposto, tanto pelos órgãos repressores do Estado, como pela ideologia exorbitante, condena desde o mais faminto ser humano até o mais obscuro dos sonhos a não ter acesso e respeito, aos mais puros sentimentos de alivio de seus fardos e ao mais nobre dos preceitos da humanidade: “o respeito à vida”.
Citando José Luis Fiorin, podemos notar o interdiscurso, ou seja, o discurso do personagem Fabiano, dentro do discurso do narrador o autor Graciliano Ramos.
Apesar de serem apenas monólogos ou impulsos e retruncos, Fabiano com toda sua falta de cultura não deixa de ser um enunciador, um produtor de algo, ou melhor, um propagador de sofrimentos, apesar de poucos relatos de sua fala ou de seus monólogos.
Bakhtin, aborda o dialogismo que é a forma particular de composição do discurso e também é o modo de funcionamento real da linguagem e portanto é seu principio constitutivo.
Os homens não tem acesso direto a realidade, pois nossa relação com ela é sempre mediada pela linguagem, isto significa que o nosso discurso não se relaciona diretamente com as coisas, mas com outros discursos, que semiotizam o mundo. Essa relação entre discurso é o dialogismo que é o modo de funcionamento real da linguagem. (FIORIN, p.167).
Assim voltando ao personagem Fabiano é perceptível, em alguns momentos, o autor ressaltar a fala do mesmo que apesar de sua desgraça, sua falta de sorte e sua repugnação, deixa escapar por vezes, seus sonhos em forma de expressões e de palavras, pois como vimos “não existe objeto que não seja cercado em volto, embebido em discurso, todo discurso dialoga com outros discursos, toda palavra é cercada de outras palavras”. (BAKHTIN, 1992, p. 319).
Em um terceiro momento, nos aportamos aos conhecimentos e aos estudos de Nelson Barros da Costa, onde mais uma vez nos remonta às idéias de Karl Marx (1987ª, 1987b, 1987, com Engels) e especialmente da leitura que delas fez o filósofo Louis Althusser (2001, 1979a, 1979b). Segundo essa concepção, os homens ao se agruparem para garantir a produção material da vida, os homens teriam criado formações sociais, estruturas fundadas na divisão do trabalho. Tal divisão teria sido baseada, inicialmente, nas aptidões físicas dos indivíduos e, posteriormente, na apropriação do excedente de produção por um grupo e pela conseqüente separação entre trabalho manual e intelectual. A sociedade assim dividida em classes precisou constituir meios que assegurassem a coesão social, o que daí por diante consistiria na reprodução dos mecanismos de exploração de classe.
Conforme Althusser (2001), o conjunto desses mecanismos seria articulado pelo estado, instância de poder constituída pela classe dominante com a missão de “assegurar (...) as condições políticas da reprodução das relações de produção que são em ultima análise relações de exploração” (p. 56).
Esses mecanismos teriam duas formas básicas de atuação: a repressão e a ideologia. (NELSON BARROS, 2005, p. 18).
Com esses conceitos, ainda podemos notar que as ideologias, juntamente com a repressão, ainda são preponderantes até os dias atuais, não deixando assim de encurralar e atropelar os sonhos daqueles que são menosprezados por uma sociedade cada vez menos igualitária e propagadora de direitos iguais para todos, crucificando principalmente, neste caso o povo nordestino, que é citado na obra de Graciliano Ramos, como é o caso de nosso personagem Fabiano e de sua família.

BIOGRAFIA
VIDA E OBRA DE GRACILIANO RAMOS
Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo, Alagoas, em outubro de 1892. Onde viveu durante sua infância e parte da adolescência. O primeiro dos quinze filhos, Graciliano Ramos foi sempre visto pela família como um sujeito difícil, taciturno e introspectivo. Fez os estudos secundários em Maceió, sem, no entanto, cursar nenhuma faculdade. O pai vivia do comércio e o filho mais velho foi aventurar-se: esteve, por breve período, no Rio de Janeiro, onde, por volta de 1914, trabalhou como revisor e redator nos jornais Correio da Manhã e A Tarde. Volta ao Nordeste e passa a ser jornalista, fazendo política também. Foi prefeito de Palmeira dos Índios entre os anos de 1928 e 1930. É dessa época o seu primeiro romance (Caetés, 1933). De 1930 a 1936 vive em Maceió, dirigindo a Imprensa e a Instrução do Estado de Alagoas. De março de 1936 a janeiro de 1937, vive a época mais difícil de sua vida. Acusado de subversivo e comunista, passa dez meses de prisão em prisão sem saber do que o acusam, sem sequer ser ouvido em depoimentos ou processos.
Desse tempo terrível, nascerá mais tarde Memórias do Cárcere, um relato que soma a angústia de existir, o medo e a inquietação. Muda-se para o Rio de Janeiro. Seus romances, histórias para crianças e artigos passam a ser reconhecidos como o maior legado literário desde Machado de Assis. Em 1945, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro e, em 1952, viaja para a Rússia e países comunistas; o que presenciou nessa peregrinação está contido num outro livro: Viagem (1954). Em 1953, morre no Rio, vítima de câncer. Suas obras já foram traduzidas para o russo, francês, inglês, alemão. E, em 1964, o romance Vidas Secas ganhou versão cinematográfica pelas mãos de Nélson Pereira dos Santos.

CONCLUSÃO:
Esta obra que é um grande clássico da literatura universal é classificada como um Romance, no entanto, alguns autores chegam a classificá-la como conto, outros como sendo uma novela, mas o que se pode dizer verdadeiramente é que vemos na obra um grande drama do retirante (Fabiano) e sua família, que a todo custo desejam fugir da seca e que vivem em extrema pobreza, os quais vivem um relacionamento seco e doloroso, a história conta com os seguintes participantes: Fabiano o chefe da família, Sinhá Vitória, sua mulher, o menino mais novo, o menino mais velho, a cadela Baleia e o papagaio completam o grupo de retirantes.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. São Paulo: Record, 2000.
MUSSALIN, Fernanda. A Análise do Discurso. In MUSSALIN, F. BENTES, Anna Christina. Introdução à Linguística 2 – domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.
FIORIN, J. L. Tendências da Análise do Discurso. In: Cadernos de Estudos Linguísticos. Campinas, UNICAMP – IEL, n. 19, Jul./dez., 1990.

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